Farsul

Produtores de leite de Rio Grande do Sul e Uruguai se reúnem na Casa da Farsul

Ministro do país vizinho propõe diálogo para construir uma solução à crise do setor


- Emerson Foguinho / Divulgação Sistema Farsul

Sentados à mesma mesa, produtores e dirigentes de entidades de representação de Uruguai e Rio Grande do Sul debateram, na manhã dessa quinta-feira, 31, as dificuldades que afetam o setor leiteiro no Estado. O encontro, que ocorreu na Casa da Farsul, contou com a participação do ministro de Ganadería, Agricultura y Pesca, Fernando Mattos, e com a cônsul-geral do país vizinho, Liliana Buonomo. O presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, e o vice, Elmar Konrad, também estiveram presentes. "Queremos preservar o belíssimo relacionamento que mantemos com o Uruguai. Obrigado, meu amigo, por estar novamente na nossa casa", disse Pereira, saudando o ministro Mattos.

De imediato, o ministro assumiu a palavra. Falando português com perfeição, Mattos classificou como "assunto delicado" temas vinculados à produção de leite no Rio Grande do Sul e Uruguai: "Tivemos, nos últimos meses, uma situação de crescente reação, ouvindo do Brasil manifestações de desacordo em relação às importações que estão sendo feitas nos laticínios uruguaios". A insatisfação com o baixo preço do produto e com as importações abriu espaço para acusações de prática de ações que caracterizariam concorrência desleal, como subsídio, dumping e triangulação. Exibindo em um telão a apresentação "El sector lácteo uruguayo", o ministro prometeu, com os números, demonstrar a boa prática da atuação de seu país.

O Uruguai é o segundo país no ranking de maiores fornecedores mundiais, atrás de Nova Zelândia. Argélia, com 30%, China, com 26%, e Brasil, com 25%, são os principais mercados atendidos pelos lacticínios orientais, em percentuais do biênio 2020-2022. Ocorre que, com a retração das importações chinesas, houve incremento da crise mundial no setor. "A grande locomotiva da demanda internacional está num ritmo muito baixo", comentou o ministro. Assim, "o Brasil se tornou a principal opção de mercado, oferecendo valores excepcionais em relação ao cenário internacional". Não tardaram a surgir, então, as "reclamações de importação predatória", acrescentou Mattos. "Não existe dumping, subsídio ou triangulação. Nossos números comprovam isso."

O presidente da Associação de Criadores de Gado Holandês (Gadolando), Marcos Tang, também usou números para demonstrar as dificuldades do leite gaúcho. "Temos um custo de produção de R$ 2,25, mas recebemos R$ 2,17 pelo litro. Cada um quer seu lugar ao sol. Não somos inimigos. Vocês [uruguaios] estão mais competentes. Parabéns. Mas nós também não somos incompetentes", disse. Tang explicou o que o Rio Grande do Sul "exporta internamente", principalmente para São Paulo, mais de 60% do leite que produz.

Outro dado salientado no encontro foi a diferença de consumo per capita entre Uruguai e Brasil. No primeiro, são 220 litros per capital por ano, enquanto que, no Brasil, o total fica em 170 litros per capita. Mattos sugeriu aos produtores gaúchos que atuem para ampliar o consumo no Estado.

No final do encontro, o diretor vice-presidente da Farsul, Fábio Avancini, afirmou a necessidade "de procurar um verdadeiro Mercosul no setor leiteiro. É um objetivo que temos de perseguir conjuntamente, construindo soluções sólidas e continuadas". O dirigente considerou a reunião "excelente" e um primeiro passo para avançar em ações que resultem em aumento do consumo.