Alta dos insumos sustenta aumento do PIB do agronegócio

Alta dos insumos sustenta aumento do PIB do agronegócio

17/06/2008 17:00
Os segmentos de insumos e a produção primária foram os principais responsáveis pelo bom desempenho do agronegócio, que já acumula crescimento de 2,81% no primeiro trimestre do ano, em relação a taxa de 0,74% de 2007. Quanto ao PIB da produção agropecuária, o crescimento chegou a 4,35% no trimestre, frente ao aumento de 1,49% registrado no ano passado. "Esse crescimento se deve ao aumento médio de 15,74% dos preços agrícolas", afirma o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Cotta Ferreira. Ele alerta, no entanto, para os efeitos negativos do aumento acumulado de 5,65% dos insumos, no trimestre, nos custos da produção agropecuária. "No caso dos fertilizantes, embora o volume de produção tenha expandido 3,37% em março, os preços aumentaram mais de 50%", afirmou Cotta. A safra recorde e o expressivo aumento dos preços agrícolas, cujo fenômeno ocorre mundialmente, contribuem para o bom desempenho do agronegócio, que retoma o ritmo de crescimento observado antes da crise de renda observada nas safras 2004/05 e 2005/06. Mas estes bons resultados ainda não alcançaram os segmentos do algodão e demais fibras, laranja, cana-de-açúcar e mandioca. Além do mais, segundo Ricardo Cotta, é preciso analisar os reflexos na rentabilidade da produção primária da alta generalizada dos preços dos insumos. "Os insumos para a agricultura cresceram 6,48% no trimestre, enquanto os insumos pecuários acumulam alta de 4,34% no ano", informou o superintendente técnico da CNA. Carne bovina e leite se destacam no segmento pecuário, com preços em expansão. Carne suína e ovos também seguem com preços firmes. O PIB da pecuária cresceu 3,06% no trimestre, contra a taxa de 1,22% do ano passado. Mas, os números da agricultura revelam melhor desempenho em março e no acumulado do ano. O aumento da produção, gerado pela safra recorde, contribui para esse comportamento, com destaque para as culturas do café, amendoim e mamona, que apresentam volume e preços em expansão. Também registram ritmo acelerado de crescimento nos preços soja, milho, batata, cebola e feijão. O trigo apresenta expressivo aumento na produção. O crescimento do PIB da agroindústria agropecuária foi modesto no primeiro trimestre, registrando 1,38% no trimestre. Esse resultado reflete a queda acumulada de 9,55% da indústria da cana-de-açúcar. No caso da agroindústria da agricultura o crescimento foi de 1,33% no trimestre, resultado dos baixos preços do açúcar, equilibrados pelo bom desempenho da indústria do etanol e de óleos vegetais. A expansão da produção e o aumento dos preços contribuíram, no entanto, para que a agroindústria da pecuária apresentasse taxa de crescimento, de 1,72% no trimestre. VBP em alta - Levantamento do Valor Bruto da Produção (VBP) para 25 produtos agropecuários confirma tendência de crescimento em 2008, em decorrência da safra recorde de grãos e da sustentação dos preços no mercado interno e externo. A estimativa da superintendência técnica da CNA é que o VBP atinja R$ 277 bilhões este ano, frente aos R$ 217,5 bilhões do ano passado. O VBP da agricultura deverá atingir R$ 171,3 bilhões, em 2008, com aumento de 27,36% em relação aos R$ 134,5 bilhões registrados no ano passado, sustentado pelo desempenho de grãos e fibras. No entanto, na avaliação de Ricardo Cotta, "esse cenário otimista não atinge todo o segmento, que tem suas margens espremidas pelos constantes aumentos dos preços de fertilizantes". Segundo ele, a situação se agrava no caso do algodão, cujos preços estão praticamente estagnados; da cana-de-açúcar, que registra considerável queda dos preços; e da laranja, com produção e preços estabilizados. EXPORTAÇÕES DO AGRONEGÓCIO SOMAM US$ 27,2 BI COM AQUECIMENTO DO MERCADO INTERNACIONAL Brasília (17.06) - As exportações do agronegócio já cresceram mais de 25% em relação ao ano passado, somando US$ 27,2 bilhões de janeiro a maio, cujo valor corresponde a 37,8% das exportações totais do Brasil. Mesmo com o crescimento de 40,4% das importações do agronegócio, o saldo comercial do setor chegou a US$ 22,6 bilhões, com aumento de 22,5%, o suficiente para cobrir o déficit de US$ 13,9 bilhões dos outros setores. "Os altos preços de exportação para a maioria dos produtos, beneficiados pelo aquecimento do mercado internacional, explicam o resultado favorável do setor", afirmou o assessor técnico da Comissão Nacional de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Matheus Zanella. Os complexos da soja e das carnes continuam liderando as exportações do setor. No caso da soja, os altos preços internacionais e de exportação, assim como a elevação da quantidade exportada, explicam o aumento de 64,6% nas exportações do segmento, que já acumulam US$ 6,8 bilhões em 2008. A quantidade exportada de soja, que não variou muito nos primeiros meses do ano, subiu 33,1% em maio, com aumentos nas exportações de soja em grão e quedas nas exportações de óleo. "As exportações de soja estão sendo beneficiadas pelo mercado internacional, que continua aquecido, além da forte demanda dos maiores importadores, como China e União Européia", afirma o assessor técnico da CNA. Segundo ele, as restrições de oferta dos principais concorrentes do Brasil, como Estados Unidos e Argentina, também influenciam os preços dos produtos. Quanto ao complexo carnes, já acumula US$ 5,6 bilhões de janeiro a maio, o que representa um aumento de 30,8% em relação ao ano passado. As exportações de frango cresceram em resposta à demanda dos principais mercados do produto brasileiro, Oriente Médio e Ásia, o que influenciou os preços de exportação, 27,8% maiores. Mas, as restrições na importação pela União Européia continuam afetando as exportações de carne bovina, embora o aumento de 37,6% nos preços, segundo Zanella, "compense a queda de 19,8% no volume exportado". O único setor que apresenta queda nas exportações é o complexo sucroalcooleiro, que acumula US$ 2,3 bilhões este ano. Apesar da recuperação verificada em maio, o segmento apresenta queda de 10,2% no seu desempenho exportador. "Essa queda é resultado de menores volumes e preços de exportação do açúcar, já que as exportações de etanol registram crescimento de 13,2% no ano", explica o assessor técnico da CNA. Para ele, no entanto, o crescimento de 24,4% verificado nas exportações do complexo sucroalcooleiro, em maio, indica que o setor poderá se recuperar até o final do ano. Quanto às importações do agronegócio, houve um crescimento de 40,4%, somando US$ 4,7 bilhões de janeiro a maio deste ano, refletindo também os altos preços internacionais dos produtos agrícolas. Mas as importações de trigo caíram 50,8% em valor, com queda significativa de 73,2% também na quantidade em maio. Segundo Matheus Zanella, três fatores explicam esse recuo: a resposta da produção brasileira ao aumento do preço do produto; as restrições de países fornecedores, como a Argentina; e a concentração das importações nos quatro primeiros meses do ano.