Farsul

Resultados dependem mais de manejo adequado do que de investimentos

Resultados dependem mais de manejo adequado do que de investimentos




Mais do que investimentos, a produção de terneiros no Rio Grande do Sul carece de manejo e gestão de processos. Esta é uma das lições da 46ª etapa do Fórum Permanente do Agronegócio - "De Onde Virão os Terneiros?", que iniciou com dias de campo ontem (4/7) e terminou com debates hoje (5/7), em Lagoa Vermelha. Na abertura do evento, o diretor administrativo da Farsul, Francisco Schardong, ressaltou a importância da realização da programação no município, devido ao avanço da soja na região dos Campos da Cima de Serra. "É um tema que surgiu diante de um novo momento que passa a agropecuária, e os dias de campo realizados em propriedades da região foram importantes para mostrar o quanto estamos no caminho certo, além de mostrar como podemos enfrentar a situação sem prejudicar a pecuária, que é tão importante para economia da região e do Rio Grande", disse Schardong. Mais de 150 pessoas participaram das atividades no campo e dos debates no Lagoa Parque Hotel. "A participação foi acima de nossas expectativas, com destaque para a grande presença de jovens e produtores", comemorou João Augusto Telles, chefe da Divisão Técnica do Senar-RS. A programação do seminário é organizada pelo Sistema Farsul, em parceria com Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com apoio de Zero Hora e patrocínio do Juntos Para Competir, um programa desenvolvido por Farsul, Senar-RS e Sebrae. Um dos palestrantes do evento,o zootecnista Alcides Pilau, afirmou que os resultados dependem mais de manejo adequado do que de investimentos. Ele mostrou que é possível aumentar o volume de produção e ao mesmo tempo diversificar a atividade da propriedade, se houver planejamento. Por meio do técnico, os produtores conheceram as histórias de três propriedades de perfis diferentes que superaram os 80% de taxa de prenhez: em uma delas, a integração com o plantio de soja levou a produtividade de crias a 92%. O benefício da integração com a lavoura é o pasto de alta qualidade o ano inteiro. Os terneiros nessa propriedade são terminados aos 18 meses sem nunca comer ração", destacou Pilau, que é consultor da Laçador Gestão em Pecuária. Ele reforça que a diversificação pode ser com pomares, florestamento, campo nativo e até incluir machos em confinamento para chegar a uma população maior. "O sistema de cria deve se adequar ao que o ambiente oferece. Para isso, há várias ferramentas", completou. Pilau também apresentou os resultados de uma propriedade especializada apenas na produção de crias: 88%. O tema também foi abordado pelo professor do Departamento de Zootecnia da UFRGS e coordenador técnico do evento, José Fernando Piva Lobato. "Não existe uma receita única. Mas mesmo com a implantação de lavouras de soja em regiões de pecuária, é possível trabalhar com alta fertilidade (na cria), em manejos aproveitando as pastagens de inverno implantadas nas áreas de soja. Enquanto isso, de junho a outubro, pode-se trabalhar com diferimento (de pastagem) nas outras áreas, deixando-as vazias para acumularem muito pasto para o verão", afirmou. Já na opinião do economista do Sistema Farsul, Antônio da Luz, a integração com as lavouras vai cada vez mais tocar aos produtores dedicados à terminação, enquanto os pecuaristas "clássicos" vão focar-se na produção de terneiros, de olho em preços que vão melhorar na mesma proporção da qualidade das crias. "Está mudando a forma de produzir carne no Rio Grande do Sul, combinando cada vez mais com soja", afirma. Mas, para conquistar os "mercados prime" (União Européia, América do Norte, Japão) e deixar de competir com a Índia por preço no Oriente Médio e África, a especialização de algumas propriedades em produção de crias é o caminho a ser seguido e se consolida como tendência no Estado, sustenta o economista. Silvio Menegassi, técnico do Senar-RS reforçou a importância de aplicar o Programa de Avaliação Andrológica de Touros (PAAT) nos reprodutores. De acordo com ele, a produção de terneiros é comprometida pela falta destas análises, que podem ser solicitadas pelos criadores nos sindicatos rurais. No Brasil, 95% dos touros "não têm avaliação ou garantia", completou o zootecnista Vanerlei Roso, sócio da Gensys Consultores Associados. Para ele, há uma questão cultural envolvida: a seleção de reprodutores não é devidamente valorizada pelos pecuaristas.