Alimento orgânico não é sinônimo de alimento seguro, alertam especialistas

Alimento orgânico não é sinônimo de alimento seguro, alertam especialistas

17/06/2015 19:30
Os alimentos orgânicos não são mais seguros do que os demais, alerta o engenheiro agrônomo e mestre em fitotecnia Claud Goellner, um dos palestrantes do seminário De Onde Virão os Alimentos: O Desafio do Futuro, realizado na tarde desta quarta-feira (17.06), em Gramado (RS). ?A produção orgânica contém mais bactérias, mais micotoxinas e toxinas naturais. Não há nenhuma evidência científica de que orgânicos são mais seguros?, explicou, apresentando dados de pesquisas científicas.
 
Para Goellner, uma parte dos ataques à agricultura baseada no uso de alta tecnologia e de defensivos é fruto de interesses comerciais. ?A agricultura europeia, por exemplo, é altamente poluidora. A Europa tem as águas subterrâneas contaminadas. Qualquer país de lá usa no mínimo duas vezes mais defensivos do que o Brasil. No entanto, tentam impedir que usemos de forma responsável?, afirmou.
 
Para o advogado Reginaldo Minaré, consultor da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), uma parte do preconceito com o uso de defensivos vem da própria lei, que denomina esses produtos como ?agrotóxicos?. ?Na Europa, se fala em fitofarmacêuticos. Em outros países da Amércia Latina, fitossanitários. No Brasil, a lei usa o termo agrotóxico, que não é nada favorável?. Ele ainda criticou o sistema brasileiro de registro e aprovação do uso de insumos, com divergências entre Ministério da Agricultura, Ibama e Anvisa. ?Na Anvisa, vemos uma visão ideológica permeando decisões que deveriam ser técnicas ?, exemplificou. O especialista defendeu a modificação do atual sistema.
 
Já Marcos Botton, pesquisador da área de entomologia da Embrapa, lembrou que é possível produzir frutas e hortaliças organicamente. ?É possível produzir sem agrotóxicos, mas obtendo menor produção, usando mais mão de obra e tendo mais perdas. Por isso, o sistema orgânico cobra mais do consumidor?, afirma. ?E isso traz outro grande problema: não se encontra mais mão de obra disposta a trabalhar na lavoura?, complementa. Ele ainda lembra que a presença de resíduos de defensivos em alimentos não significa necessariamente riscos. ?É seguro consumir alimentos com agrotóxico, dentro de limites aceitos internacionalmente. No Brasil, o arroz e feijão que consumimos todo dia tem resíduos. No mundo todo, se consome produtos com resíduos de forma segura?, explica Botton. O especialista ainda explica que os fruticultores não têm acesso a muitos defensivos, porque não há produtos necessários registrados. ?A indústria não prioriza registro de produtos para frutas e hortaliças, porque o mercado é bem menor do que o de grãos?, diz. Botton ainda defendeu que ?há espaço para produção orgânica e para a produção convencional?, defendeu.
 
Mestre em fitotecnia pela UFRGS, Dirceu Gassen lembrou os benefícios que a tecnologia trouxe para a agricultura. E criticou as carências da pesquisa agropecuária no Brasil e, especificamente, no Rio Grande do Sul, o que dificulta análise de amostras de insetos, de resistência de plantas, bem como de protocolos precisos para combate a pragas. Ele ainda criticou as ameaças de proibição do herbicida glifosato. ?Não temos alternativa para esse produto?, lembrou. &nbsp